sábado, 15 de novembro de 2008

CARTA PARA MINHA MÂE EM MAIO DE 1987

è outono outra vez
certamente o inverno logo vem.
E assim a vida segue seu ciclo natural, numa eterna lição de sabedoria e paciência.
Neste mesmo ciclo, acompanho, assustada, as primaveras das minhas meninas.
Procuro pela meninha que eu banhava, tento sentir um cheiro de mamadeira, ver um varal cheio de fraldas....Qual o quê.
Isso tudo já passou. Agora quais rosas, desabrocham, a cada dia, mais florescem.
Já olham com interesse para os garotos, vão sozinhas á escola, e passam horas trancadas em seu quarto, trocando segredos e confidencias.
Já não dependem tanto de mim: vão atacanda a geladeira se pinta fome,até mesmo penteiam seus longos cabelos sozinhas.
Elas estão independentes, e eu?
Eu me surpreendo necessitada delas, querendo que me chamem que me requisitem.
Tenho medo, mãe, de, num repente, ve-las adultas, sair porta afora, deixando vazia nossa casa,
E descubro que ser mãe é doloroso, é estranho o sentimento de quem sempre protegeu, procurando proteção, de quem sempre cuidou, querendo ser cuidada.
De quem procurou estar sempre perto, com medo da solidão!
Me pergunto se vc se sentiu assim com relação a mim, será que te desamparei? que te deixei sozinha, que não te protegi?
Conheço a resposta, mãe, e não posso justifica-la.
Posso dizer-te apenas: CRESCI!
Virei gente grande e precisei abrir caminho, quis pra mim outro horizonte, então, parti.
E agora, presa a laços atados por nós cegos, prisioneira de meus proprios sentimentos, percebo enfim, que apenas plagiei a tua vida, mãe.
Só espero ter a mesma força a mesma coragem com que vc nos viu, um a um, abrir a porta e seguir buscando seu caminho, pois sei que eu tb terei que deixa-las ir.
Terei que abençoa-las na partida e rezar para que me visitem vez ou outra.
Creio que nós, as máes, passem anos e séculos,
teremos sempre o mesmo destino:
Criar filhos para dar ao mundo.......................................................

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